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sábado, 22 de abril de 2017

TERRA PLANA?


Deu no portal UOL: “Nós sabemos: 2016 mal começou, mas já podemos ter a ‘teoria de conspiração do ano’. Não se sabe bem a razão, mas argumentos de que a Terra é plana – fato não só contestado por imagens tiradas do espaço, mas também por investigações matemáticas que datam desde a Grécia antiga – têm ganhado manchetes pelo mundo todo recentemente. [...] Quem são os crentes da Terra plana? [...] Eles acreditam basicamente, que há uma conspiração mundial envolvendo cientistas e agências espaciais para que todos acreditem que a Terra é esférica. É dito que estamos em um disco circular, não em um globo, com o Polo Norte no meio e a Antártida em toda a borda. [...] Em matéria do jornal inglês The Guardian, é citado que os seguidores dessa teoria são ‘quase como uma religião’. Não se sabe qual é realmente o tamanho do grupo. Mas, como em qualquer assunto, fanáticos fazem barulho. Principalmente na internet. Em grupos de Facebook, posts no Twitter, vídeos no YouTube, fóruns... [...] Inúmeros fatos são apontados pelos membros dos grupos. As alegações para isso vão desde ‘desaparecimento de navios’ a ‘horizonte reto’ (mas não citam que barcos ficam só parcialmente visíveis no horizonte por causa da curvatura terráquea).”
O livro Inventando a Terra Plana (São Paulo: Editora Unisa, 1999), de Jeffrey Burton Russel, historiador e pesquisador da Universidade da Califórnia, mostra convincentemente que a ideia da Terra plana foi uma elaboração mais ou menos recente. Embora hoje se saiba que os europeus renascentistas tenham supervalorizado a ideia de que houve um período de mil anos de trevas intelectuais entre o mundo clássico e o moderno, Russel acredita que o erro da Terra plana não havia sido incorporado à ortodoxia moderna antes do século 19. “[Russel] descobriu o fio da meada nos escritos do americano Washington Irving e do francês Antoine-Jean Letronne [responsáveis pela posterior propagação do mito da Terra plana]. Mas sua disseminação no pensamento convencional ocorreu entre 1870 e 1920, como consequência da ‘guerra entre a ciência e a religião”, quando para muitos intelectuais na Europa e nos Estados Unidos toda religião tornou-se sinônimo de superstição e a ciência tornou-se a única fonte legítima da verdade. Foi durante os últimos anos do século 19 e os primeiros anos do século 20 que a viagem de Colombo se tornou então um símbolo amplamente divulgado da futilidade da imaginação religiosa e do poder libertador do empirismo científico. [...] os pensadores medievais, da mesma forma que os clássicos que os antecederam, criam na redondeza da Terra” (p. 10).
Irving (1783-1859) retocou a história para parecer que a oposição à viagem de Colombo se deveu ao pensamento de que a Terra fosse plana. Isso foi provado falso. A oposição se deveu, na verdade, à preocupação com a distância que os navegadores teriam que percorrer. A esfericidade da Terra não foi tema de discussão naquela ocasião.
O fato é que nem Cristóvão Colombo, nem seus contemporâneos pensavam que a Terra fosse plana. Não há uma referência sequer nos diários do navegador (e de outros exploradores) que levante a questão da redondeza da Terra, o que indica que não havia contestação alguma a esse respeito, na época. Assim, segundo Russel, é comum a regra de Edward Grant de que no século 15 não havia pessoas cultas que negassem a redondeza da Terra. No entanto, esse mito permanece até hoje, firmemente estabelecido com a ajuda dos meios de comunicação e dos livros didáticos. Com que interesse?
Para Russel, o mito da Terra plana pode ser rastreado até o século 19, especialmente a partir de 1870, à medida que autores de livros-textos se envolveram na controvérsia em torno do darwinismo. “No início do século [20] a força dominante subjacente ao erro [da Terra plana] foi o anticlericalismo do Iluminismo no seio da classe média na Europa, e o anticatolicismo nos Estados Unidos” (p. 35).
Antes disso, na Divina Comédia, o poeta Dante Alighieri (1265-1321) já apresentava o conceito de uma Terra redonda. Os filósofos escolásticos, incluindo o maior deles, Tomás de Aquino (1225-1275), conhecedores de Aristóteles, igualmente afirmavam a esfericidade da Terra.
No entanto, como os escolásticos e filósofos medievais se baseavam em Aristóteles e este defendia a esfericidade da Terra, os iluministas tiveram que arranjar outros referenciais para dizer que o mito se baseava neles. E os encontraram em Lactâncio (245-325 d.C.) e Cosme Indicopleustes, autor de Topografia Cristã (escrito entre 547 e 549 d.C.). Só que, segundo Russel, Lactâncio tinha ideias muito estranhas sobre Deus e não foi levado em consideração na Idade Média (na verdade, foi considerado herege) – até que os humanistas da Renascença o “ressuscitassem”, apregoando sua suposta influência. Indicopleustes, partindo de escritos de filósofos pagãos e interpretando erroneamente textos bíblicos poéticos, defendeu a ideia da Terra plana. Era ignorado, ao invés de seguido.
Detalhe: a primeira tradução de Cosme para o latim não foi feita senão em 1706. Portanto, como poderia ele ter tido influência sobre o pensamento ocidental medieval?
Russel arremata: “[Lactâncio e Cosme] foram símbolos convenientes a serem usados como armas contra os antidarwinistas. Em torno de 1870, o relacionamento entre a ciência e a teologia estava começando a ser descrito através de metáforas bélicas. Os filósofos (propagandistas do Iluminismo), particularmente [David] Hume, haviam plantado uma semente ao implicar que estavam em conflito os pontos de vista científicos e cristãos. Augusto Comte (1798-1857) havia argumentado que a humanidade estava laboriosamente lutando para ascender em direção ao reinado da ciência; seus seguidores lançaram o corolário de que era retrógrado tudo o que impedisse o advento do reino da ciência. Seu sistema de valores percebia o movimento em direção à ciência como ‘bom’, de tal forma que o que atrapalhasse esse movimento era ‘mau’. [...] O erro [da Terra plana] foi, desta forma, incluído no contexto de uma controvérsia muito maior – a alegada guerra entre ciência e religião” (p. 67, 77).
O próprio Copérnico, no prefácio de seu clássico trabalho De Revolutionibus, usou Lactâncio para ilustrar como a ignorância dos opositores à ideia da Terra esférica era comparável à dos que insistiam no geocentrismo. Curiosamente, Copérnico não diz que Lactâncio era típico do pensamento medieval. Esse prefácio foi enviado para o papa a fim de obter aprovação eclesiástica. Copérnico não atacaria Lactâncio e sua ideia da Terra plana, se a igreja estivesse de acordo com esse pensamento. O problema, como já vimos, teve que ver com o geocentrismo aristotélico versus heliocentrismo, e não com o formato da Terra.
Com essa polêmica levantada pelos novos defensores da Terra plana, já há quem tente, pela milionésima vez, mostrar que a Bíblia sustenta essa ideia absurda. Nada mais falso, também. Na Bíblia não há qualquer sugestão de que a Terra poderia ser plana. Conforme explicam os teólogos Gerhard e Michael Hasel, “algumas passagens poéticas descrevem os ‘alicerces’ da Terra como descansando sobre ‘colunas’ (1Sm 2:8; Jó 9:6). No entanto, essas palavras são usadas apenas em poesia e são mais bem entendidas como metáforas. Elas não podem ser interpretadas como colunas literais. Até hoje, falamos metaforicamente das ‘colunas da igreja’, referindo-nos aos membros de confiança da comunidade de crentes. Então, as colunas da terra são metáforas que descrevem Deus como aquele que pode apoiar ou mover os fundamentos internos que mantêm a Terra no lugar e unida, porque ele é o Criador” (He Spoken and It Was, em preparo para publicação em português pela Casa Publicadora Brasileira).
Isso também ocorre com expressões como “os quatro ventos [ou cantos] da Terra”, o que não desmerece a Bíblia, uma vez que até mesmo cientistas ainda hoje usam expressões como “pôr do sol”, embora todos saibamos que não é o Sol que se põe.
Infelizmente, defensores de teorias conspiratórias como a da Terra plana prestam um desserviço à história da ciência e até mesmo à religião. Mais confundem do que ajudam, e tudo o que conseguem é cair no ridículo.

1. Horizonte sempre perfeitamente reto na horizontal 360 graus ao redor do observador independentemente da altitude. Todas as imagens amadoras de balões, drones, aviões e foguetes mostram isso até mais de 200 milhas de altura.

Falso: as câmeras normalmente usadas nesses dispositivos amadores geralmente possuem um efeito “olho de peixe”, que distorce a imagem de tal maneira que não é possível saber se a superfície da Terra é côncava, plana ou convexa. Faça você mesmo o seguinte teste na próxima vez que andar de avião. Segure uma cordinha, um fio de linha ou algo semelhante contra a janela. Deixe o fio bem esticado e alinhe as extremidades ao horizonte, em ambos os extremos da janela. Observe o que você vê no centro: o horizonte um pouquinho acima do fio. Isso mostra que a superfície da Terra é convexa, não plana. Como a Terra é muito grande, a altitude do avião é pequena e a janela é também pequena, esse efeito é igualmente pequeno, porém observável.

2. Você nunca tem que olhar para baixo para ver o horizonte. Está sempre ao nível dos olhos do observador.

Falso: mesmo se a Terra fosse plana, isso não seria verdade, a menos que se tratasse de um plano infinito. Se a Terra tivesse uma superfície plana, mas finita, a uma altitude suficiente notaríamos que o horizonte está mais abaixo. Em altitudes relativamente baixas (poucos km) em relação ao tamanho da Terra, seria praticamente impossível notar isso sem instrumentos precisos.

3. A física natural da água mantém o nível de sua superfície. Se a Terra fosse uma bola girando, inclinando-se e cambaleando no espaço vazio, então superfícies de água realmente planas ao longo de grandes extensões não existiriam. Como a Terra é plana [sic], então as superfícies planas de água fazem sentido.

Falso: esse argumento não leva em conta os efeitos inerciais, nem o formato do campo gravitacional, nem a velocidade dos movimentos comparada com o tempo de resposta da água. A força gravitacional que atua sobre qualquer objeto aponta no sentido em que uma grandeza chamada de potencial gravitacional é menor (levando-se em conta o sinal, inclusive). O princípio por trás desse nivelamento da água é que, para que o líquido esteja em equilíbrio, todos os pontos da superfície precisam estar com um mesmo potencial gravitacional. Quando não há esse equilíbrio, a água escoa.

Se a Terra fosse um disco plano, o formato do potencial gravitacional faria com que o oceano parecesse uma grande bolha. Nesse caso também não teríamos superfícies planas de água. Note-se que, em extensões pequenas comparadas ao tamanho da Terra, essas superfícies parecem planas, mas a rigor são todas curvas, tanto na hipótese da Terra plana quanto no cenário da Terra esférica. Outro ponto importante é que a Terra se move por inércia, o que não causa os efeitos de aceleração que o senso comum esperaria. Em outras palavras, o movimento da Terra afeta o movimento da água de forma bem mais discreta, via efeitos de maré e similares, criando correntes marítimas, por exemplo. E existe algum movimento da água em função da posição da combinação das posições do Sol e da Lua em relação à Terra de tal maneira que tais movimentos da água não fariam sentido se a Terra fosse plana e estática.

4. Rios correm para o mar encontrando o caminho mais fácil. Se a Terra fosse redonda, o Mississipi, por exemplo, precisaria subir umas 11 milhas antes de descer até o oceano.

Falso: expressões como “subir” ou “descer” só possuem sentido em relação ao potencial gravitacional. Subir significa ir para um lugar com maior potencial gravitacional. Descer é o oposto. A água percorre seu caminho buscando pontos em que o potencial gravitacional é menor, pois é para lá que a força da gravidade a impulsiona. No caso da Terra esférica, o campo gravitacional é esférico também, de maneira que não existe esse suposto fenômeno de a água subir em relação ao campo gravitacional ao longo do leito de um rio. Por outro lado, se a Terra fosse plana, o formato do campo gravitacional seria bem diferente, de forma que o solo só pareceria plano no centro. À medida que nos afastássemos do centro, sentiríamos como se estivéssemos subindo uma cadeia de montanhas que cercam um vale. Todo o resto da Terra pareceria inclinado. Cada ponto da Terra teria declividade tanto maior quanto mais longe do centro estivesse. Todos os rios iriam para esse centro. A rigor, a Terra não é perfeitamente esférica nem o é seu campo gravitacional, mas para uma discussão geral, essa é uma boa aproximação.

5. Um trecho do Nilo flui por 1.000 mi com uma descida de apenas uns 30 cm. Se a Terra fosse esférica, partes desse trecho seriam de subida e parte seriam de descida.

Falso: é uma repetição do argumento anterior e sofre do mesmo problema.

6. Curvatura da água: 8 polegadas por milha vezes o quadrado da distância. Um canal parado de 6 milhas deveria ter uma diferença de altura de 6 pés em cada ponto em relação ao centro. Nenhum dos testes feitos indicou curvatura alguma.

Esse argumento não é válido enquanto não forem especificados os detalhes dos testes feitos para detectar a curvatura. A fórmula mencionada está errada, embora exista uma verdadeira para esse fim. Existe uma infinidade de testes inválidos que podem ser feitos. Por exemplo, os testes não podem ser feitos com medidas de altitude, pois estas funcionam em relação ao potencial gravitacional, que acompanha aproximadamente a curvatura da Terra, se a Terra é esférica, e por isso nada indicariam.

Existe ainda o problema de que a distribuição de material nas vizinhanças geológicas do local observado tem alguma influência no formato local do campo gravitacional. Esse efeito tende a ser pequeno, mas pode ser importante, dependendo do tamanho do lago, canal, etc., e da geologia da região. Quando esse efeito é pequeno o suficiente para ser desconsiderado, medidas cuidadosas com laser podem resolver o problema. Precisaríamos de mais dados sobre o local e especialmente sobre detalhes técnicos dos testes que supostamente teriam indicado que a superfície do canal é plana.

7. Engenheiros não precisam levar em conta a curvatura da Terra em seus projetos de pontes, túneis e trilhos de trem.

Argumento falso baseado em verdade distorcida: pontes e trilhos são feitos em partes. Não é necessário levar em conta a curvatura da Terra na ponte como um todo ou ao longo de todo o trajeto de trilhos de trem. Túneis também são escavados aos poucos, mantendo a altitude em relação aos pontos anteriores. Isso nivela o túnel em relação ao potencial gravitacional, aproximadamente esférico. Um exemplo é Mt McDonald Tunnel, com 14.723 m de comprimento e 7,87 m de altura. Se os defensores da Terra plana estivessem certos, esse túnel realmente seria uma linha reta e seria possível ver uma extremidade a partir da outra. Porém, posicionando-se em uma entrada do túnel não é possível ver a outra extremidade. Quando um trem se aproxima, a certa altura ele parece subir saindo do solo, apesar de o túnel ser todo horizontal em relação ao campo gravitacional. Isso mostra na prática a curvatura da Terra.

8. Canal de Suez, com 160 km, foi cavado horizontalmente sem levar em conta a curvatura da Terra, e consegue conectar oceanos sendo plano.

Argumento falso: é o mesmo caso dos itens 4 e 7. Não é preciso levar em conta a curvatura da Terra ao cavar canais, construir pontes, túneis e trilhos. Basta manter a horizontal. O resultado final acompanhará naturalmente a curvatura da Terra em função do formato do potencial gravitacional.

9. O engenheiro W. Winkler afirma que jamais precisou levar em conta a curvatura da Terra.

Caso particular do item 7. Como vimos, não é um argumento válido contra a esfericidade da Terra.

10. London and Northwestern Railway forma uma linha reta de 180 milhas entre Londres e Liverpool. O ponto mais alto dessa linha fica a 240 pés de altura. Se a Terra não fosse plana, o trilho chegaria a 5.400 pés de altura acima de Londres e Liverpool.

Falso: trata-se do mesmo problema do item 7. A altura é medida por instrumentos em relação à superfície equipotencial do campo gravitacional ao nível do mar. As pessoas que usam os instrumentos não precisam saber disso - e geralmente não sabem. Em termos mais fáceis de entender, é como se existisse uma superfície esférica que toca a superfície do mar e todas as alturas são medidas em relação a ela, pois é a gravidade que diz que lado é “para baixo” ou “para cima” e em que regiões diferentes objetos possuem o mesmo potencial, isto é, a mesma altura. Ao viajarmos mantendo sempre a mesma altitude, estamos acompanhando a curvatura do campo gravitacional, que é a mesma da Terra.

Para concluir: o mito da Terra plana, infelizmente, depõe contra o cristianismo, embora os cristãos que o defendem pensem estar defendendo a Bíblia. É o tipo de ideia que lança opróbrio sobre a causa criacionista, pois passa a falsa impressão de que os criacionistas seriam defensores de coisas absurdas como o terraplanismo. Se for para ser criticados, que sejamos pelos motivos certos: por crer em Deus, na Bíblia Sagrada, na criação de Adão e Eva e na semana literal de seis dias seguidos do dia de descanso, no dilúvio de Gênesis, na morte e ressurreição de Jesus e na volta dEle. A diferença entre essas coisas e a Terra plana é que para as primeiras há muitos argumentos lógicos e convincentes, ao passo que, para a segunda, só invencionices de quem ou não entende de ciência ou está muito perturbado, à cata de distrações para perder seu precioso tempo em uma época em que nosso foco deve ser outro. Note que Johnson menciona, além da aurora boreal, a austral. Isso mesmo, aurora “boreal” no Polo Sul, uma ideia que entra no pacote de argumentos contra o terraplanismo. Cristãos defenderem esse disparate já é um absurdo, mas o que dizer de alguns adventistas que têm feito o mesmo? Se são mesmo adventistas do sétimo dia, devem crer que Deus inspirou Ellen White a escrever suas obras, e ela foi muito clara a respeito da esfericidade do nosso planeta.

Michelson Borges

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