Martinho Lutero, desde sua ordenação, em 1507, passou a viver num estado de profunda depressão. Mortificava-se, jejuava e se autoflagelava, na tentativa de tornar Deus favorável a ele. Como escreveria mais tarde, quando ouvia falar no nome de Jesus, preferiria ter ouvido o nome do diabo. Cristo lhe parecia um severo juiz, assentado sobre o arco-íris pronto para punir Suas criaturas. Lutero foi salvo de sua intensa agonia quando fez três descobertas, todas elas relacionadas com o evangelho.
Lutero havia aprendido que a justiça divina é retribuitiva. Assim, para ele, a justiça de Deus seria basicamente o princípio pelo qual Ele nos condena. Por isso, ele disse odiar a palavra justiça. Preparando suas aulas sobre os Salmos, ele se deparou com dois textos. Os Salmos 31:1 e 71:2 dizem o mesmo: “Livra-me por Tua justiça.” Então, pensou: “Como pode a justiça de Deus livrar alguém, se ela é condenatória?” Lendo, em Romanos 1:17, que “a justiça de Deus se revela no evangelho”, ele ficou furioso: “Já não é suficiente que Deus nos esmague com a lei? Ele ainda nos ameaça com o evangelho?” Finalmente, Lutero entendeu que a justiça divina é primariamente redentora. Justiça não é o que Deus exige, mas aquilo que Ele nos oferece.
Em segundo lugar, Lutero entendeu que o significado de “justificar” tornara-se confuso pelo latim. No grego, “justificar” significa “declarar justo”, “perdoar”, “atribuir justiça”. No latim, “justificar” significa um longo processo, em que primeiro o homem, pelo próprio esforço, com alguma assistência divina, deve alcançar um estado interior de justiça. Só então Deus o justifica. Nesse caso, Deus não justifica o “ímpio” (Rm 4:15), mas o “justo”. A santificação, nessa interpretação, havia se tornado um pré-requisito para a justificação.
Lutero finalmente entendeu o princípio bíblico da substituição. Na cruz, Jesus tomou nosso lugar, recebeu a punição que era nossa e agora nos oferta Sua justiça por meio da fé. É a partir daí que as obras aparecem na vida cristã, não como a base da salvação, mas como resultado dela. Não praticamos as boas obras para que sejamos salvos, mas porque já experimentamos a salvação. Amigo leitor, quando você recebe a Cristo, Deus o recebe nEle.
Ele não olha para você, mas para Cristo em você.

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