Origem do Mito
A noção de um “inferno” de fogo eterno para castigar os maus está intimamente associada à teoria da imortalidade natural da alma. Já no Jardim do Éden, Satanás, na forma de uma serpente, disse a Eva que ela e Adão não morreriam (Gn 3:4; Ap 12:9). Entre os antigos pagãos havia noções de um outro mundo no qual os espíritos dos mortos viviam conscientes. Essa crença, somada à noção de que entre os seres humanos existem pessoas boas e pessoas más que não podem conviver para sempre juntas, levou antigos judeus e cristãos a crerem que, além do paraíso para os bons, existe também um inferno para os maus.
Muitos eruditos criam que a noção de um inferno de tormento para os ímpios derivara do pensamento persa. Mas em meados do século 20 essa teoria já havia perdido muito de sua força, diante das novas investigações que enfatizavam a influência grega sobre os escritos apocalípticos judaicos do 2o século a.C. Tal ênfase parece correta, pois na literatura greco-clássica aparecem alusões a um lugar de tormento para os maus. Por exemplo, a famosa Odisséia de Homero (rapsódia 11) descreve uma pretensa viagem de Ulisses à região inferior do Hades, onde mantém diálogo com a alma de vários mortos que sofriam pelos maus atos deles. Também Platão, em sua obra A República, alega que “a nossa alma é imortal e nunca perece”.
Por contraste, o Antigo Testamento afirma que o ser humano é uma alma mortal (ver Gn 2:7; Ez 18:20); que ele permanece em estado de completa inconsciência na morte (ver Sl 6:5; 115:17; Ec 3:19 e 20; 9:5 e 10); e que os ímpios serão aniquilados no juízo final (ver Ml 4:1). Mas tais ensinamentos bíblicos não conseguiram impedir que o judaísmo do 2.o século A.C. começasse a absorver gradativamente as teorias gregas da imortalidade natural da alma e de um lugar de tormento onde já se encontram as almas dos ímpios mortos. Esse lugar de tormento era normalmente denominado pelos termos Hades e Sheol.
Já nos apócrifos judaicos transparecem as noções de uma espécie de purgatório (Sabedoria 3:1-9) e de orações pelos mortos (II Macabeus 12:42-46). Mas o pseudepígrafo judaico de I Enoque (103:7) assevera explicitamente: “Vocês mesmos sabem que eles [os pecadores] trarão as almas de vocês à região inferior do Sheol; e eles experimentarão o mal e grande tribulação – em trevas, redes e chamas ardentes.” Também o livro de IV Enoque (4:41) fala que “no Hades as câmaras das almas são como o útero”. A idéia básica sugerida é a de uma alma imortal que sobrevive conscientemente à morte do corpo.
O Novo Testamento, por sua vez, fala acerca da morte como um sono (ver Jo 11:11-14; I Co 15:6, 18, 20 e 51; I Ts 4:13-15; II Pe 3:4) e da ressurreição como a única esperança de vida eterna (ver Jo 5:28 e 29; I Co 15:1-58; I Ts 4:13-18). Mas o cristianismo pós-apostólico também não conseguiu resistir por muito tempo à tentação paganizadora da cultura greco-romana, e passou a incorporar as teorias da imortalidade natural da alma e de um inferno de tormento já presente. Uma das mais importantes exposições medievais do assunto aparece em A Divina Comédia, de Dante Alighieri, cujo conteúdo está dividido em “Inferno”, “Purgatório” e “Paraíso”.
Além de conflitar com os ensinos do Antigo e do Novo Testamento, a teoria de um inferno eterno também conspira contra a justiça e o poder de Deus. Por que uma criança impenitente, que viveu apenas doze anos, deveria ser punida nas chamas infernais por toda a eternidade? Não seria essa uma pena desproporcional e injusta (ver Ap 20:11-13)? Se o mal teve um início, mas não terá fim, não significa isso que Deus é incapaz de erradicá-lo, a fim de conduzir o Universo à sua perfeição original? Cremos, portanto, que a teoria de um tormento eterno no inferno é antibíblica e conflitante com o caráter justo e misericordioso de Deus.
Inferno tormento eterno?
Muitos eruditos criam que a noção de um inferno de tormento para os ímpios derivara do pensamento persa. Mas em meados do século 20 essa teoria já havia perdido muito de sua força, diante das novas investigações que enfatizavam a influência grega sobre os escritos apocalípticos judaicos do 2o século a.C. Tal ênfase parece correta, pois na literatura greco-clássica aparecem alusões a um lugar de tormento para os maus. Por exemplo, a famosa Odisséia de Homero (rapsódia 11) descreve uma pretensa viagem de Ulisses à região inferior do Hades, onde mantém diálogo com a alma de vários mortos que sofriam pelos maus atos deles. Também Platão, em sua obra A República, alega que “a nossa alma é imortal e nunca perece”.
Por contraste, o Antigo Testamento afirma que o ser humano é uma alma mortal (ver Gn 2:7; Ez 18:20); que ele permanece em estado de completa inconsciência na morte (ver Sl 6:5; 115:17; Ec 3:19 e 20; 9:5 e 10); e que os ímpios serão aniquilados no juízo final (ver Ml 4:1). Mas tais ensinamentos bíblicos não conseguiram impedir que o judaísmo do 2.o século A.C. começasse a absorver gradativamente as teorias gregas da imortalidade natural da alma e de um lugar de tormento onde já se encontram as almas dos ímpios mortos. Esse lugar de tormento era normalmente denominado pelos termos Hades e Sheol.
Já nos apócrifos judaicos transparecem as noções de uma espécie de purgatório (Sabedoria 3:1-9) e de orações pelos mortos (II Macabeus 12:42-46). Mas o pseudepígrafo judaico de I Enoque (103:7) assevera explicitamente: “Vocês mesmos sabem que eles [os pecadores] trarão as almas de vocês à região inferior do Sheol; e eles experimentarão o mal e grande tribulação – em trevas, redes e chamas ardentes.” Também o livro de IV Enoque (4:41) fala que “no Hades as câmaras das almas são como o útero”. A idéia básica sugerida é a de uma alma imortal que sobrevive conscientemente à morte do corpo.
O Novo Testamento, por sua vez, fala acerca da morte como um sono (ver Jo 11:11-14; I Co 15:6, 18, 20 e 51; I Ts 4:13-15; II Pe 3:4) e da ressurreição como a única esperança de vida eterna (ver Jo 5:28 e 29; I Co 15:1-58; I Ts 4:13-18). Mas o cristianismo pós-apostólico também não conseguiu resistir por muito tempo à tentação paganizadora da cultura greco-romana, e passou a incorporar as teorias da imortalidade natural da alma e de um inferno de tormento já presente. Uma das mais importantes exposições medievais do assunto aparece em A Divina Comédia, de Dante Alighieri, cujo conteúdo está dividido em “Inferno”, “Purgatório” e “Paraíso”.
Além de conflitar com os ensinos do Antigo e do Novo Testamento, a teoria de um inferno eterno também conspira contra a justiça e o poder de Deus. Por que uma criança impenitente, que viveu apenas doze anos, deveria ser punida nas chamas infernais por toda a eternidade? Não seria essa uma pena desproporcional e injusta (ver Ap 20:11-13)? Se o mal teve um início, mas não terá fim, não significa isso que Deus é incapaz de erradicá-lo, a fim de conduzir o Universo à sua perfeição original? Cremos, portanto, que a teoria de um tormento eterno no inferno é antibíblica e conflitante com o caráter justo e misericordioso de Deus.
Inferno tormento eterno?
O inferno é uma doutrina bíblica, mas, que espécie de inferno? Um lugar onde os pecadores impenitentes queimam para sempre e conscientemente sofrem dor num fogo eterno que nunca termina? Ou uma punição na qual Deus aniquila pecadores e pecado para sempre após um julgamento?
Tradicionalmente, através dos séculos, tem-se proclamado o inferno como um tormento eterno. Porém, será possível que Deus, que tanto amou o mundo e enviou Seu Filho para salvar os pecadores, possa também ser um Deus que tortura as pessoas (mesmo o pior dos pecadores) para sempre? Como poderia Deus demonstrar amor e justiça, enquanto proporciona sofrimentos aos pecadores pela eternidade no fogo do inferno. Este paradoxo inaceitável tem levado estudiosos a re-examinar o ensino bíblico quanto ao inferno e o castigo final.
A questão fundamental é: O fogo do inferno tortura, causa angústia, sofrimento aos perdidos eternamente ou os consome permanentemente?
INFERNO: ANIQUILAMENTO DEFINITIVO DO MAL
A crença no aniquilamento dos perdidos é baseada em quatro considerações bíblicas:
1. A morte como punição do pecado
O aniquilamento final dos pecadores impenitentes é indicado, em primeiro lugar, pelos seguintes princípios bíblicos: “a alma que pecar morrerá” (Ezequiel 18:4); “porque o salário do pecado é a morte” (Romanos 6:23). A Bíblia ensina que a morte é a cessação da vida, e hoje, ela é uma realidade que envolve toda a humanidade por causa do pecado de Adão e Eva (Romanos 5:12 cf I Coríntios 15:20-22). Mas o inferno bíblico refere-se a segunda morte, que é a morte final e irreversível a ser sofrida pelos pecadores impenitentes (Apocalipse 20:14; Apocalipse 21:8).
Se não fosse pela segurança da ressurreição, a morte seria o término da existência para sempre (I Tessalonicenses 4:16-18; Daniel 12:1-2). Contudo, haverá duas ressurreições, uma destinada para aqueles que possuem seus nomes escritos no Livro da Vida, e outra para aqueles que tiveram seus nomes apagados dele, em decorrência de pecados não confessados. Para estes a Bíblia relata que será uma ressurreição para a segunda morte, destinada a receber a devida punição no “lago de fogo” por seus pecados (Apocalipse 20:12-15). Este será o aniquilamento final, uma morte permanente e que perdurará pela eternidade.
2. O vocabulário bíblico sobre a destruição dos ímpios
A segunda razão para crer no aniquilamento definitivo do pecado é o vocabulário de sua destruição usado na Bíblia. Segundo Basil Atkinson, o Velho Testamento usa mais de 25 substantivos e verbos para descrever a extinção dos ímpios.2 Diversos salmos relatam esse acontecimento.3 Isaías e Malaquias proclamam:
“Eis que vem o dia do SENHOR, dia cruel, com ira e ardente furor, para converter a terra em assolação e dela destruir os pecadores. (…) Farei que os homens sejam mais escassos do que o ouro puro, mais raros do que o ouro de Ofir.” (Isaías 13:9-12 cf Sofonias 1:15-18)
“Pois eis que vem o dia e arde como fornalha; todos os soberbos e todos os que cometem perversidade serão como o restolho; o dia que vem os abrasará, diz o SENHOR dos Exércitos, de sorte que não lhes deixará nem raiz nem ramo. (…) se farão cinzas (…) naquele dia que prepararei, diz o SENHOR dos Exércitos.” (Malaquias 4:1-3)
Jesus comparou a destruição dos ímpios como: o joio atado em molhos para serem queimados (Mateus 13:30 e 40) e ainda declarou: “Se alguém não permanecer em Mim, será lançado fora, à semelhança do ramo, e secará; e o apanham, lançam no fogo e o queimam.” (João 15:6 cfLucas 17:26-30). Todas estas ilustrações descrevem a destruição final dos ímpios. O contraste entre o destino dos salvos e dos perdidos é respectivamente vida versusdestruição. A linguagem de extinção é inescapável também no livro do Apocalipse. João descreve com ilustrações vívidas o lançamento do diabo, da besta, do falso profeta e de todos os ímpios no lago de fogo que é “a segunda morte” (Apocalipse 20:10 cf Apocalipse 2:11).
3. As implicações morais do tormento eterno
A doutrina do tormento eterno é inaceitável. A noção de que Deus deliberadamente tortura pecadores pela eternidade é totalmente incompatível com a revelação bíblica de Deus com amor infinito (Ezequiel 18:20-32; Ezequiel 33:10-16). Um Deus que inflige tortura infinita a Suas criaturas, não importando o quão pecadoras elas foram, não pode ser o Pai de amor que Jesus Cristo nos revelou.
Tem Deus duas faces? É Ele infinitamente misericordioso de um lado e insaciavelmente cruel de outro? Pode Ele amar os pecadores arrependidos de tal modo que enviou Seu Filho para salvá-los, e ao mesmo tempo odiar os pecadores impenitentes tanto que os submete a um tormento cruel sem fim? Podemos legitimamente louvar a Deus por Sua bondade, enquanto Ele atormenta os pecadores através dos séculos?
A intuição moral que Deus plantou em nossa consciência não pode aceitar a crueldade de uma divindade que sujeita pecadores a tormento infindo. A justiça divina não poderia jamais exigir a penalidade infinita de dor eterna por causa de pecados finitos. Isso acarretaria enorme desproporção entre os pecados cometidos durante uma curta vida e o castigo infinitamente duradouro.
4. As implicações cosmológicas do tormento eterno
A razão final para crer no aniquilamento dos perdidos é que, tormento eterno, pressupõe um dualismo cósmico eterno. Céu e inferno, alegria e sofrimento, bem e mal coexistiriam para sempre. É impossível reconciliar esta opinião com a visão profética da Nova Terra:
“E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram.” “Pois eis que Eu crio Novos Céus e Nova Terra; e não haverá lembrança das coisas passadas, jamais haverá memória delas.” (Apocalipse 21:4; Isaías 65:17)
Como poderiam o pranto e dor serem esquecidos se a agonia e angústia dos perdidos fossem aspectos permanentes da nova ordem? A presença de incontáveis milhões sofrendo para sempre tormento punitivo, mesmo se fosse bem longe do arraial dos santos, serviria apenas para destruir a paz e a felicidade do novo mundo. A nova criação surgiria defeituosa desde o primeiro dia, visto que os pecadores permaneceriam como uma realidade eterna no universo de Deus.
O propósito do plano da salvação é desarraigar definitivamente a presença de pecado e pecadores do universo. Somente quando os pecadores, Satanás e seus anjos, forem extintos no “lago de fogo e enxofre”, Cristo terá finalmente completado Sua obra de purificação e restauração de todas as coisas (Apocalipse 21:5). O ensino bíblico do juízo e sua sentença final que aniquila completamente os pecadores, os sentenciando a morte eterna, revela um Deus de justiça.
A DESTRUIÇÃO DOS ÍMPIOS, UM ATO DE MISERICÓRDIA
“Poderiam aqueles cuja vida foi empregada em rebelião contra Deus, ser subitamente transportados para o Céu, e testemunhar o estado elevado e santo de perfeição que ali sempre existe, estando toda alma cheia de amor, todo rosto irradiando alegria, ecoando em honra de Deus e do Cordeiro uma arrebatadora música em acordes melodiosos, e fluindo da face dAquele que Se assenta sobre o trono uma incessante torrente de luz sobre os remidos; sim, poderiam aqueles cujo coração está cheio de ódio a Deus, à verdade e santidade, unir-se à multidão celestial e participar de seus cânticos de louvor? Poderiam suportar a glória de Deus e do Cordeiro?
Não, absolutamente; anos de graça lhes foram concedidos, a fim de que pudessem formar caráter para o Céu; eles, porém, nunca exercitaram a mente no amor à pureza; nunca aprenderam a linguagem do Céu, e agora é demasiado tarde. Uma vida de rebeldia contra Deus incapacitou-os para o Céu. A pureza,santidade e paz dali lhes seriam uma tortura; a glória de Deus seria um fogo consumidor. Almejariam fugir daquele santo lugar. Receberiam alegremente a destruição, para que pudessem esconder-se da face dAquele que morreu para os remir. O destino dos ímpios se fixa por sua própria escolha. Sua exclusão do Céu é espontânea, da sua parte, e justa e misericordiosa da parte de Deus.”
Inferno: Fogo Extinguível
Embora a doutrina sobre o inferno (vindouro) que aniquilará o pecado definitivamente(a) seja bíblica, o uso da palavra “inferno” é indevidamente utilizada em algumas traduções da Bíblia. Esse vocábulo é originado do latim “infernum” e alude a um fictício lugar nas profundezas da Terra onde almas pecadoras são continuamente encaminhadas e submetidas a castigos infindáveis (gerenciados por demônios), onde são atormentadas pelo fogo eternamente. Tanto a palavra “infernum” quanto o ensino que ela transmite são totalmente desconhecidos nos textos originais das Escrituras Sagradas.
Existirá uma punição final destinada aos pecadores que rejeitaram o sacrifício de Jesus e os Seus ensinos, mas, não há semelhança alguma com as idéias pagãs que a palavra “inferno” está relacionada. Este termo não deveria ter sido usado nas traduções bíblicas. Ela foi adicionada de maneira indevida em substituição as palavras: “sheol“, “hades“, “geennan” e “tartaros” que compõem os textos bíblicos originais (hebraico e grego). Isso vem proporcionando gravíssimos erros doutrinários.
SHEOL
Sheol provém do hebraico שׂאל ou שאול e significa sepultura, cova, túmulo, morada dos mortos (pó da terra), escuridão e figurativamente representa a extinção total. Enquanto algumas versões bíblicas utilizam indevidamente a palavra latina “inferno“, outras como a Nova Versão Internacional mantêm a sua tradução vinculada diretamente ao original hebraico:
“Pois um fogo foi aceso pela Minha ira, fogo que queimará até as profundezas do sheol…” (Deuteronômio 32:22)
“Voltem os ímpios ao pó, todas as nações que se esquecem de Deus!” (Salmos 9:17)
“As cordas da morte me envolveram, as angústias do sheol vieram sobre mim…” (Salmos 116:3)
“Os seus pés descem para a morte; os seus passos conduzem diretamente para asepultura.” (Provérbios 5:5)
“… que os seus convidados estão nas profundezas da sepultura.” (Provérbios 9:18)
“O caminho da vida conduz para cima quem é sensato, para que ele não desça à sepultura.” (Provérbios 15:24)
“Castigue-a, você mesmo, com a vara, e assim a livrará da sepultura.” (Provérbios 23:14)
“O sheol e a destruição são insaciáveis, como insaciáveis são os olhos do homem.” (Provérbios 27:20)
“Eu os redimirei do poder da sepultura; Eu os resgatarei da morte. (…) Onde está, ó sepultura, a sua destruição?…” (Oséias 13:14)
HADES
Deixando à margem os mitos pagãos que são associados a palavra grega “hades” (αδου) e centrando no seu significado etimológico, esta palavra refere-se a: sepulcro, escuridão, região escura, lugar dos mortos (cova, sepultura). E, assim como ocorre com “sheol“, a palavra “hades” é substituída por “inferno” inadequadamente em algumas traduções bíblicas. Entretanto, outras, como a Nova Versão Internacional, mantêm o termo original:
“E você, Cafarnaum, será elevada até ao céu? Não, você descerá até o hades!…” (Mateus 11:23; Lucas 10:15)
“… e sobre esta pedra edificarei a Minha igreja, e as portas do hades não poderão vencê-la.” (Mateus 16:18)
“No hades, onde estava sendo atormentado, ele olhou para cima e viu Abraão de longe…” (Lucas 16:23)
“… E tenho as chaves da morte e do hades.” (Apocalipse 1:18)
“… Seu cavaleiro chamava-se Morte, e o hades o seguia de perto…” (Apocalipse 6:8)
“Então a morte e o hades foram lançados no lago de fogo…” (Apocalipse 20:14)
GEENNAN
A palavra grega “geennan” (γεενναv) esta vinculada ao termo hebraico הנם (Hinnom - lamentação) e, refere-se a “ge Hinnom” que literalmente significa “vale de Hinom“. Este vale está situado a sudoeste de Jerusalém e era utilizado pelos canaanitas para oferecer sacrifícios humanos, especialmente crianças, ao deus Moloque. O local específico desse vale onde eram realizados esses ritos chamava-se Tofete (Levítico 20:1-5;II Reis 23:10; Jeremias 32:35).
Posteriormente, a antiga Jerusalém utilizou este local como incinerador de lixo e cadáveres de animais, indigentes e criminosos. Em alguns casos, os corpos eram arremessados em locais desprovido de fogo, e os vermes os utilizavam como alimento. Essas cenas do vale de Hinom são descritas pelo profeta Isaías: “Eles sairão e verão os cadáveres dos homens que prevaricaram contra Mim; porque o seu verme nunca morrerá, nem o seu fogo se apagará; e eles serão um horror para toda a carne.” (Isaías 66:24).
Devido ao propósito desse local, o fogo era mantido constante e, enxofre, era lançado para auxiliar neste objetivo. O vale de Hinom passou a ser considerado símbolo de maldição e terror entre os judeus. E com propriedade Jesus Cristo narrou para eles o destino dos ímpios utilizando as cenas que esse vale retratava:
“E, se tua mão te faz tropeçar, corta-a; pois é melhor entrares maneta na vida do que, tendo as duas mãos, ires para o inferno [geennan - "γεενναν"], para o fogo inextinguível. (…) onde não lhes morre o verme, nem o fogo se apaga.” (Marcos 9:43-48) – versão João F. Almeida Revista e Atualizada.
Este cenário representa o lago de fogo e enxofre do juízo final, onde estarão os que tiveram seus nomes riscados do Livro da Vida (Apocalipse 20:15 cf Apocalipse 19:20). Nestes versos observa-se o emprego de figura de linguagem, pois, não existe verme imortal e fogo que não se apaga. Em ambos os casos a existência depende de fatores externos. Esgotando as condições que os mantêm, eles deixam de existir. O “fogo” de Sodoma e Gomorra esclarece esta questão:
“(…) destruiu, depois, os que não creram; e a anjos, os que não guardaram o seu estado original, mas abandonaram o seu próprio domicílio, Ele tem guardado sob trevas, em algemas eternas, para o juízo do grande dia; como Sodoma, e Gomorra, e as cidades circunvizinhas, que, havendo-se entregado à prostituição como aqueles, seguindo após outra carne, são postas para exemplo do fogo eterno, sofrendo punição.” (Judas 1:4-7)
“(…) e, reduzindo a cinzas as cidades de Sodoma e Gomorra, ordenou-as à ruína completa, tendo-as posto como exemplo a quantos venham a viver impiamente; e livrou o justo Ló, afligido pelo procedimento libertino daqueles insubordinados…” (II Pedro 2:4-11)
Esses versos esclarecem que os habitantes das referidas cidades receberam punição, ruína completa, pelos seus pecados e se tornaram “exemplos do fogo eterno“. As populações desses lugares não continuam a sofrer punição em um “fogo contínuo” (“fogo inextinguível”) pois elas deixaram de existir. Mas as conseqüências do fogo, a punição, permanecem pela eternidade. O fogo perdurou enquanto o que mantinha-o ativo existia, extinguindo-se o fogo, permanece o resultado de sua atuação – a perdição (destruição) eterna para aqueles que lhe fora submetido.
Não há nenhuma relação entre “infernum” e “geennan” como foi descrito na introdução. O vocábulo latino “inferno” está relacionado a fábula de um lugar conhecido como “o submundo”, “as profundezas das trevas”, “as regiões inferiores” onde os ímpios são enviados e sofrem eternamente assolados por agentes diabólicos. A palavra inferno representa idéias pagãs, ela não tem vínculo algum com os textos originais em hebraico e grego que formam a Bíblia; diverge por completo do significado de “geennan“. Os versos bíblicos onde este termo foi substituído por “inferno” são: Mateus 5:22, 29 e 30; Mateus 10:28; Mateus 18:9; Mateus 23:15 e 33; Marcos 9:43, 45 e 47; Lucas 12:5; Tiago 3:6.
TARTAROS
O termo “tartaros” (ταρταροω) refere-se a “lugar sombrio”, “lugar de trevas”, “região tenebrosa”. E, embora não haja vínculo com as palavras “sheol” e “hades“, pode-se vinculá-lo com “geennan” quanto aos acontecimentos futuros reservados, também, aos anjos caídos. “Tartaros” é utilizado unicamente em II Pedro 2:4 e, infelizmente, assim nos casos anteriores, foi substituído pela palavra “inferno”:
“Ora, se Deus não poupou anjos quando pecaram, antes, precipitando-os no inferno[tartaros - "ταρταρωσας"], os entregou a abismos de trevas, reservando-os para juízo.” – versão João F. Almeida Revista e Atualizada.
Pedro não relaciona “tartaros” com as idéias que os gregos tinham e, tampouco, com o conceito populardos judeus sobre “geennan“. Pedro usa linguagem simbólica e não refere-se a existência de lugares especiais onde os anjos caídos estão presos. O verso retrata sobre o juízo futuro na qual eles estão aguardando (Apocalipse 20:7-15 cf I Coríntios 6:3). O verso de Judas 1:6 descreve, também este fato:
“E, quanto aos anjos que não conservaram suas posições de autoridade mas abandonaram sua própria morada, Ele os tem guardado em trevas, presos com correntes eternas para o juízo do grande dia.”
Ou seja, esses anjos estão presos em meio as circunstâncias espirituais. Eles não possuem mais a presença do SENHOR em suas vidas, estão para sempre afastados da condição espiritual na qual eles se encontravam no Céu, antes de se rebelarem contra Ele. Agora se encontram envolvidos em “abismos espirituais”, em profundas “trevas espirituais” na Terra, habitando entre a humanidade, porém, em uma dimensão espiritual (atmosfera espiritual - Efésios 6:12; Lucas 11:24-26). Estão presos aguardando a futura punição, não se encontram (como alguns ensinam baseados no conceito pagão de inferno) sob infindável punição. As correntes que os prendem não são literais e tampouco poderiam ser eternas, pois, um dia eles serão exterminados e tais “correntes” perderão o propósito e a qualidade de “eternas”.
Haverá um “lago de fogo” antes do Milênio?
A Bíblia declara que “o nosso Deus é fogo consumidor” para o pecado (Hb 12:29, Dt 4:24 e 9:3), e que os ímpios não suportarão a manifestação plena da Sua glória (Hb 10:26 e 27). Na primeira vinda, a glória de Cristo estava velada (Fp 2:5-8), mas na segunda vinda, Ele Se mostrará “com poder e grande glória” (Lc 21:27, 2Ts 2:8, 2Pe 3:10 e 12). Malaquias indaga: “Mas quem poderá suportar o dia da Sua vinda? E quem poderá subsistir quando Ele aparecer? Porque Ele é como o fogo do ourives e como a potassa dos lavandeiros” (Ml 3:2).
Descrevendo os eventos que ocorrerão por ocasião da segunda de Cristo, Apocalipse 19:20 e 21 declara que a “besta” e o “falso profeta” serão então “lançados vivos dentro do lago que arde com enxofre”, enquanto que os “restantes” dos ímpios serão “mortos com a espada que sai da boca daquele” que estará montado no “cavalo branco” (Cristo). Já Apocalipse 20 fala explicitamente que, ao término do período de “mil anos”, todos os ímpios serão lançados no “lago de fogo e enxofre”, para a “segunda morte” (versos 10, 14 e 15).
Cremos, portanto, que antes do Milênio haverá um lago de fogo parcial, que não chegará a purificar a Terra; e que após o milênio haverá outro lago de fogo, que destruirá definitivamente todos os ímpios e purificará completamente a Terra de todos os vestígios do pecado (ver Ml 4:1).
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